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15jan

Para ler ouvindo: Cat Power; Metal Heart

No contador, 21 semanas.
Dia após dia, passou.
Passou como as marcas no corpo, o toque na pele, o suspiro no peito.
Semana após semana, passou.
Passou como a risada esquecida, a mensagem apagada, a palavra não dita.
Mês após mês, passou.
Passou como os momentos e beijos, as lembranças e carícias.
Passou como tudo passa. Ou como insistem em dizer que passa.

Memória ruim, por que agora lembra de tanto?
Em poucos instantes, músicas realizam o, até então, impossível teletransporte.
Coração, você não era de metal?
Agora, frágil feito papel. Não é capaz de negar mais.
Mãos dançaram no ar.
Olhares eu tento apagar.
Dia após dia, não passou nem vai passar.

No contador, 21 semanas.
Agora tanto faz.

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04jan

eu nunca tive medo do escuro
não me assustei com bicho papão
durmo com o pé pra fora da cama
não tenho medo de assombração

eu nunca tive medo de altura
tenho mania de encarar o espelho depois de apagar a luz
não tenho medo de cobra nem de barata
já entrei no cemitério sem fazer sinal da cruz

eu tenho medo de gente, de gente viva
mais especificamente
eu tenho medo de você

pois nada explica
esse frio na barriga
que eu sinto ao te ver

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29nov

Cebola

“Você tá chorando?”
A pergunta era retórica, Eliza cortava uma cebola.
E chorou. Largou a cebola, olhou a faca e chorou.
Chorou mais. Chorou como se fatiasse todas as cebolas do mundo.
Aos prantos, sentou-se no chão da cozinha e ajoelhada sabia que não era o ardor de cebola porra nenhuma.
Aquele nó apertado estava em sua garganta há mais tempo do que ela gostaria ou admitia.
Eliza sofria calada.
Os martírios dentro de si. As dúvidas. Os isolamentos. As pressões.
Tudo veio à tona.
Naqueles poucos segundos, pensou em sua vida. O que era dela e o que ainda seria.
Levantou-se com a faca e a cebola na mão enquanto enxugava os olhos na camiseta, suspirou e disse:
“Culpa dessa cebola maldita!”

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