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21jun

Pensamentos ruins têm me rondado
Não há nada que eu possa fazer
Ou mesmo queira
Eles me ajudam a segurar este fado

Lamento o meu estado
Sinto o tempo passar
Ponteiros giram como
Um velocímetro descompensado

De olho fechados, bem fechados
Agraciados
Coitados
Pouco ansiados, nada ansiados

Meu calendário é um confuso emaranhado
Não sei que dia é hoje
Melhor assim
Estou tão cansado

Desnorteado
Ainda não me encontrei
E sei que não irei
Não é por malgrado

Prestes a cometer um dito pecado
Caio, afundo feito uma âncora
Pra baixo e sempre
Focado

Até o fim
O que for o fim pra mim

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09set

Deitei, eram 22h10. Peguei o livro no criado-mudo, o marcador não estava nem perto da metade. Abro, página 81:

“Florence entrou na sala de jantar:
– Boa noite – disse (…)”

Boa noite.
As letras começam a se distanciar, as palavras perdem o sentido.
Leio a frase, mas que frase? Não existe mais pontuação.
Preciso cumprir toda a lista de tarefas do trabalho. Metas. Prazos.
Hum, que vontade de comer aquele mesmo doce que comi ontem no almoço.
Não posso esquecer de comprar o presente de aniversário da Fulana, é semana que vem.
Que merda, esqueci de dar parabéns pro Ciclano ontem, não acredito.
Preciso arrumar meu armário. O quarto está uma bagunça.
Será que tem comida no pote pra gata comer?
Acho que vou assistir aquele último filme de terror que baixei.
Nossa, ainda não terminei aquele quebra-cabeça gigante.
Que dia é hoje mesmo?
Tenho que pagar a fatura do cartão de crédito.
O tempo tá passando rápido demais.
Paro pra pensar nos últimos acontecimentos.
Lembrei do dia em que te conheci.
As falas, os risos, as músicas. Os filmes, as pessoas, os dias.
As viagens, os passos, as estradas. Os abraços, as mãos, os beijos.
Lembrei de tudo.
Por que isso agora?
A vida em um filme que passa inteirinho na minha mente.
Fecho os olhos.
Balanço a cabeça como se isso embaralhasse as lembranças.
É, eu preciso dormir.
Droga de sono que não vem.
Vou comer alguma coisa, um chocolate quente é uma boa.
Depois volto, leio mais um pouco e…

23h55
Olho no canto do livro, página 81.

Adriana Cecchi

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