Categoria: Desgraçamento Mental ||| por Adriana Cecchi
Réquiem para um Sonho, escrito por Hubert Selby Jr., sem dúvida, é uma das leituras mais intensas e desgraçadas que já fiz. Publicado originalmente em 1978, a edição relançada no Brasil é da Darkside Books e conta com tradução de Diego Gerlach.
Sem moralismo nem romantização, a realidade crua e a possibilidade cruel. A narrativa desenfreada intensifica o desespero e simula um pico sem volta numa espiral de desesperança. Ciclo
s se apertam, sonhos morrem e tudo rui. O tipo de obra que te faz questionar suas próprias fragilidades e que me deixou mal por um bom tempo depois de ler.
O pesadelo da esperança
A trama segue quatro personagens principais: Sara Goldfarb, seu filho Harry Goldfarb, a namorada de Harry, Marion, e o seu melhor amigo Tyrone. Cada um deles busca algo que dê sentido às suas vidas — Sara sonha em participar de um programa de auditório, enquanto Harry, Marion e Tyrone veem na venda de heroína uma chance de melhorar de vida e alcançar seus sonhos. No entanto, todos acabam presos em um ciclo de destruição, cada vez mais consumidos por seus vícios e ilusões.
O que é mais forte nisso tudo é o contraste entre a esperança que carregam e a realidade áspera em que vivem. Eles acreditam, até o último momento, que estão a um passo de realizar seus sonhos. Mas quanto mais acreditam, mais próximos estão de sua ruína.
Narrativa caótica
Um dos aspectos que torna Réquiem para um Sonho único é o estilo de escrita de Selby. Não é uma leitura fácil. A narrativa entrelaça vozes, diálogos e pensamentos, sem pontuações convencionais, o que pode ser desconcertante no começo. A falta de travessões ou aspas para marcar diálogos, somada à fusão de diferentes pontos de vista, cria uma leitura densa e desafiadora. Logo você percebe que essa confusão reflete a desordem mental dos personagens. Tudo é caótico, sufocante, e isso só intensifica a imersão no desespero deles. A escrita é como um fluxo contínuo que faz você se sentir tão perdido quanto os protagonistas.
Vício e declínio
Outro ponto de destaque é a forma brutalmente honesta com que o autor trata o vício. Selby vai direto ao ponto, mostrando a realidade crua da dependência, tanto química quanto emocional. Ele explora como o vício afeta as decisões e a própria personalidade dos personagens, empurrando-os cada vez mais para o fundo do poço. É um processo de degradação gradual, até que não restar mais nada além do desalento.
Todas as trajetórias são trágicas, mas considero a de Sara a mais sensível, ela busca a felicidade em uma solução ilusória: emagrecer para caber em um vestido antigo e participar de um programa de TV. Sua dependência crescente em anfetaminas, prescritas por um médico irresponsável, é uma representação dolorosa de como a sociedade medicaliza o sofrimento humano sem considerar as consequências. Sara é vítima de suas próprias esperanças, iludida por uma promessa de felicidade que nunca se concretiza.
A ruína dos sonhos
O título Réquiem para um Sonho é uma metáfora perfeita para o que o livro representa: uma despedida dos sonhos destruídos. “Réquiem” significa missa para os mortos e o “sonho”, ao qual se refere, é o “sonho americano” (american dream) – essa ideia de que, com trabalho duro, qualquer um pode alcançar sucesso e felicidade. Selby nos mostra o oposto. Os personagens do livro são pessoas comuns, cheias de aspirações simples, mas que acabam esmagadas por um sistema que as trai.
“Um novo terror nascido na morte, uma nova superstição
entrando na fortaleza inexpugnável da eternidade.”
Escrito em 1954, Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson, é considerado um dos maiores clássicos do horror e da ficção científica. Uma obra com muitos lados e que desperta muitas reflexões sobre vida, morte, existência e sobrevivência.
Uma praga assola o mundo e transforma cada ser vivente em criaturas da noite sedentas por sangue. O ano é 1976, Robert Neville pode ser o último homem na Terra. Ao que parece ele é o último sobrevivente de uma pandemia devastadora que tirou a vida de todos nesse cenário pós-apocalíptico.
Qual a motivação para continuar existindo? Qual a razão para querer viver?
Assista ao conteúdo completo no YouTube: EU SOU A LENDA (Richard Matheson) 🩸: HORROR EXISTENCIAL e o MITO DO VAMPIRO
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Terror psicológico para desgraçar a cabeça: Sombras do Passado (Resurrection), dirigido por Andrew Semans e disponível no Telecine.
Margaret (Rebecca Hall), vive uma rotina disciplinada e está no controle de sua vida. Equilibra perfeitamente a vida profissional e pessoal, a maternidade solo com sua filha Abbie (Grace Kaufman).
Porém esse cuidadoso equilíbrio desmorona quando Margaret avista um homem que parece conhecer e fica completamente atormentada. O homem em questão é David (Tim Roth), uma sombra de seu passado, alguém que desperta sensações tenebrosas às suas memórias e ela começa a vê-lo outras vezes em lugares diferentes.
Margaret transmite ser confiante, disciplinada, gentil, atenciosa, inteligente, bem-sucedida. E realmente é. Essa é uma de suas camadas, a camada externa. Basta um estalo que essa camada pode ser removida como uma casca.
O desenvolvimento da produção é bastante psicológico. Um filme incômodo e perturbador que vai incomodar e perturbar de formas diferentes sem pedir muita licença.
Assista ao conteúdo completo no YouTube: SOMBRAS DO PASSADO (Resurrection) 🤯: o DESMORONAMENTO do CONTROLE e um paralelo com TOC
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