Categoria: Filmes ||| por Adriana Cecchi


Todo dia é um bom dia para intensificar uma obsessão, ainda mais se essa obsessão for por uma cineasta como Rose Glass.
Nascida em 1990, Rose Glass começou a se interessar por cinema ainda jovem, com gravações caseiras. Desenvolveu seu estilo visual e narrativo ao longo de uma década dirigindo clipes musicais e curtas-metragens. Seu trabalho é caracterizado pela condução do horror que se aprofunda em temas como solidão, compulsão, desejo, repressão, identidade e transformação.
Santa Maud (Saint Maud; 2019) foi paixão à primeira (e segunda, e terceira, e…) assistida. Fiquei atônita com a jornada de uma mulher em direção ao seu próprio apocalipse, cuja busca – desesperada – por redenção se converte em uma espiral de autodestruição. Na época, minha adoração à produção rendeu um vídeo (emocionado) no youtube, que eu jamais daria play novamente. Uma revisita recente ao filme desencadeou uma vontade imensa de saborear e enaltecer o trabalho dessa mulher. Aqui estou.
CURTAS
Moths (2010)
Ficção | 11 min
🔗 Onde assistir: Vimeo
O curta é um projeto de faculdade realizado na London College of Communication. Moths revela o “convívio” entre um homem e uma mulher – a relação acontece entre paredes, mais especificamente, por meio de um pequeno buraco na parede que divide seus apartamentos. Ambos mantêm a dinâmica voyeurística de fazer algo para que o outro possa espiar, as rotinas performáticas os aproximam, mas a barreira de tijolos continua no mesmo lugar. Fetiche, desejo, expectativa, insegurança e simbolismo, uma estreia bastante interessante.
Storm House (2011)
Ficção | 14 min
🔗 Onde assistir: Vimeo
Vivendo em isolamento absoluto, um jovem casal se comunica apenas por gestos e impulsos físicos, deixando que tais emoções e necessidades se expressem sem qualquer filtro. Nada é reprimido, ora se agridem violentamente, ora se acariciam, ora apenas se observam… Há uma constante entre o absurdo e a exposição da fragilidade de uma conexão sem comunicação.
The Silken Strand (2013)
Ficção | 17 min
🔗 Trailer no Vimeo
O curta foi realizado pela National Film and Television School. The Silken Strand, numa tradução literal “fio de seda”, traz um casal cujo relacionamento gira em torno de uma obsessão por cabelos.
Room 55 (2014)
Ficção | 22 min
🔗 Onde assistir: Vimeo
Ambientado nos anos 1950, Room 55 acompanha a jornada de Alice Lawson (Charlotte Weston) – esposa, mãe e famosa apresentadora de programas de receitas –, uma mulher rigorosamente autodisciplinada que decide passar uma noite não planejada sozinha no charmoso Clove Hotel. Com humor, erotismo e excelente produção, Rose Glass usa elementos de BDSM para abordar repressão, libertação e identidade.



Réquiem para um Sonho, escrito por Hubert Selby Jr., sem dúvida, é uma das leituras mais desgraçadas que já fiz. Publicado originalmente em 1978, a edição relançada no Brasil é da Darkside Books e conta com tradução de Diego Gerlach.
Sem moralismo nem romantização, a realidade crua e a possibilidade cruel. A narrativa desenfreada intensifica o desespero e simula um pico sem volta numa espiral de desesperança. Ciclos se apertam, sonhos morrem e tudo rui. O tipo de obra que te faz questionar suas próprias fragilidades e que me deixou mal por um bom tempo depois de ler.
O pesadelo da esperança
A trama segue quatro personagens principais: Sara Goldfarb, seu filho Harry Goldfarb, a namorada de Harry, Marion, e o seu melhor amigo Tyrone. Cada um deles busca algo que dê sentido às suas vidas — Sara sonha em participar de um programa de auditório, enquanto Harry, Marion e Tyrone veem na venda de heroína uma chance de melhorar de vida e alcançar seus sonhos. No entanto, todos acabam presos em um ciclo de destruição, cada vez mais consumidos por seus vícios e ilusões.
O que é mais forte nisso tudo é o contraste entre a esperança que carregam e a realidade áspera em que vivem. Eles acreditam, até o último momento, que estão a um passo de realizar seus sonhos. Mas quanto mais acreditam, mais próximos estão de sua ruína.
Narrativa caótica
Um dos aspectos que torna Réquiem para um Sonho único é o estilo de escrita de Selby. Não é uma leitura fácil. A narrativa entrelaça vozes, diálogos e pensamentos, sem pontuações convencionais, o que pode ser desconcertante no começo. A falta de travessões ou aspas para marcar diálogos, somada à fusão de diferentes pontos de vista, cria uma leitura densa e desafiadora. Logo você percebe que essa confusão reflete a desordem mental dos personagens. Tudo é caótico, sufocante, e isso só potencializa a imersão no desespero deles. A escrita é como um fluxo contínuo que faz você se sentir tão perdido quanto os protagonistas.
Vício e declínio
Outro ponto de destaque é a forma brutalmente honesta com que o autor trata o vício. Selby vai direto ao ponto, mostrando a realidade crua da dependência, tanto química quanto emocional. Ele explora como o vício afeta as decisões e a própria personalidade dos personagens, empurrando-os cada vez mais para o fundo do poço. É um processo de degradação gradual, até que não restar mais nada além do desalento.
Todas as trajetórias são trágicas, mas considero a de Sara a mais sensível, ela busca a felicidade em uma solução ilusória: emagrecer para caber em um vestido antigo e participar de um programa de TV. Sua dependência crescente em anfetaminas, prescritas por um médico irresponsável, é uma representação dolorosa de como a sociedade medicaliza o sofrimento humano sem considerar as consequências. Sara é vítima de suas próprias esperanças, iludida por uma promessa de felicidade que nunca se concretiza.
A ruína dos sonhos
O título Réquiem para um Sonho é uma metáfora perfeita para o que o livro representa: uma despedida dos sonhos destruídos. “Réquiem” significa missa para os mortos e o “sonho”, ao qual se refere, é o “sonho americano” (american dream) – essa ideia de que, com trabalho duro, qualquer um pode alcançar sucesso e felicidade. Selby nos mostra o oposto. Os personagens do livro são pessoas comuns, cheias de aspirações simples, mas que acabam esmagadas por um sistema que as trai.


“Um novo terror nascido na morte, uma nova superstição
entrando na fortaleza inexpugnável da eternidade.”
Escrito em 1954, Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson, é considerado um dos maiores clássicos do horror e da ficção científica. Uma obra com muitos lados e que desperta muitas reflexões sobre vida, morte, existência e sobrevivência.
Uma praga assola o mundo e transforma cada ser vivente em criaturas da noite sedentas por sangue. O ano é 1976, Robert Neville pode ser o último homem na Terra. Ao que parece ele é o último sobrevivente de uma pandemia devastadora que tirou a vida de todos nesse cenário pós-apocalíptico.
Qual a motivação para continuar existindo? Qual a razão para querer viver?
Assista ao conteúdo completo no YouTube: EU SOU A LENDA (Richard Matheson) 🩸: HORROR EXISTENCIAL e o MITO DO VAMPIRO
Para mais conteúdo e resenhas de livros: Redatora de M