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02jul

Perverso, eufórico, criativo e brutal. Sound of Violence, dirigido por Alex Noyer, deve ganhar o título em português de O Som da Violência pela literalidade do que o filme se propõe desde o início.

O Som da Violência me pegou com tudo por um motivo: sinestesia — basicamente, uma condição neurológica onde a pessoa tem um cruzamento de sensações, as combinações podem ser diversas entre olfato, paladar, visão, audição. Por exemplo: sentir o cheiro de uma música ou o gosto de uma palavra. Sendo sinestésica sempre me interessei pelo assunto e fico fascinada com representações dela na arte.

Se preferir ver ou ouvir este conteúdo, confira o vídeo no YouTube:
SOUND OF VIOLENCE e CENSOR: 2 filmes com ÊXTASES CATÁRTICOS

A história segue Alexis (Jasmin Savoy Brown) ainda criança aos dez anos de idade com deficiência auditiva testemunhando e vivenciando um evento absurdamente brutal. Esse momento despertou essa condição sinestésica nela e fez com que tivesse vontade de desbravar e entender isso através de tons, de batidas, agora adulta, Alexis estuda e trabalha com música e design de som.

Mora com Marie (Lili Simmons), amiga que apoia e acompanha Alexis em suas ideias doidinhas, mas sem saber quais as intenções e motivações por trás delas. 

Que seria encontrar cura através de sons de violência, por isso o título literal, menos de 10 minutos e fica nítido na tela o que se sente — e é um grande paradoxo como isso é explorado graficamente no filme, as cenas de violência contrapondo à sensação de prazer.

Por um motivo específico, Alexis intensifica a busca por sua obra-prima por meio de experiências de sons horríveis. Neste ponto de intensificação, temos uma questão que também ocorre em Censor (2021): ambos são filmes curtos e bastante determinados num ponto de virada para suas personagens. Não há tempo para um grande aprofundamento e acredito que isso possa incomodar algumas pessoas, o negócio é aceitar e curtir o embalo. O famigerado “aceita ou surta“, neste caso, literalmente.

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01jun

Será que estamos vivendo ou apenas cumprindo funções dentro de um protocolo social?

O ponto de partida deste questionamento veio com Apples, filme grego de 2020 e o primeiro longa-metragem de Christos Nikou — que já trabalhou como assistente de direção de Yorgos Lanthimos em Dente Canino. Cinema grego tudo para mim ❤.

Apples foi selecionado pro Festival de Veneza, exibido no Festival de Toronto e é uma pérola pouco comentada recheada de vazio existencial e vazio em confronto consigo mesmo. A premissa é bastante impactante: uma pandemia mundial que causa amnésia repentina. Sim, é isso mesmo que você leu.

Áris, interpretado pelo Áris Sérvetális, sai um dia de casa, pega um ônibus, chega no ponto final do trajeto e não se lembra mais de nada. Não lembra de onde é nem para onde vai, como as pessoas dizem no filme: ele esqueceu

este conteúdo também está no Youtube

Os casos de esquecimento repentino estão aumentando, uma epidemia de amnésia súbita que acomete as pessoas e que até o momento não tem cura — pelo menos nenhum paciente recuperou a memória até então.

Sem documentos, Áris é levado ao hospital para ser amparado, como acontece com muitos na mesma situação, até que familiares procurem por essas pessoas e voltem pra casa. Mas ninguém procurou por Áris, ele não foi identificado. Recebe auxílio dos médicos, entre medicação e alguns testes ali para avaliar o progresso da memória, ou melhor, da falta dela.

Sem nenhum parente próximo, Áris entra num programa do governo chamado Nova Identidade, cujo intuito é reinserir os pacientes na sociedade. Recebem todo o suporte, como moradia, roupas e dinheiro para principais despesas. Além disso, ganham também uma câmera Polaroid e um gravador com lições diárias — tarefas que todos os integrantes do programa precisam cumprir e em seguida fotografar para registrar cada momento. Simbolicamente, todas as fotos são colocadas num álbum e marcar memórias. Aí aproveito para mais perguntas:

Somos aquilo que vivemos ou aquilo que lembramos que vivemos? O que significa, de fato, experienciar uma vivência?

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13mar

“Escolha a vida. Escolha o Facebook, o Twitter, o Instagram e esperar que alguém se importe.
Escolha olhar para os velhos tempos, querendo ter feito tudo diferente.
E escolha ver a história se repetir.”

E então eu assisti T2 Trainspotting, a sequência de Trainspotting, e me apaixonei novamente por esses caras meio-intragáveis-para-muitos que trouxeram de volta toda a essência do primeiro filme.

Vinte anos se passaram desde que Rents (Ewan McGregor) passou a perna nos amigos (menos no Spud!), levando os 12 mil libras pra bem longe e – enfim – “escolhendo a sua vida”, choose life.

Resenha do livro Trainspotting no YouTube

Nesses 20 anos muitas coisas aconteceram: Spud (Ewen Bremner) perdidaço nas drogas a procura de um “pico definitivo”, Sick Boy (Jonny Lee Miller) – agora é mais conhecido como Simon – trocou a heroína por cocaína, administra um pub e chantageia empresários ameaçando vazar sex tapes, isto em parceria com sua então namorada Veronika (Anjela Nedyalkova). E Begbie (Robert Carlyle) – o psycho do rolê – ficou todo esse tempo na cadeia com ódio de tudo e todos com aquele jeitinho de falar cheio de palavrões e preconceitos. Planeja uma fuga do presídio e você pode imaginar que coisa boa não vai sair daí.

Renton estava morando em Amsterdã bem tranks com trabalho, aparentemente ajustado ao modelo social que criticou no monólogo inicial do primeiro filme, mas uma crise pessoal traz o personagem de volta a Edinburgh. Essa volta a sua cidade natal deve-se à necessidade que ele sente de enfrentar os demônios de seu passado, melhor dizendo, os três caras que ele roubou.

E esse reaparecimento de “Rent Boy” desperta sentimentos diversos nos antigos ex (?) amigos e os aproxima de uma maneira estranha e, ao mesmo tempo, natural. O reencontro obviamente incomoda, é a partir dele que os personagens se dão conta que o tempo passou, de que não são mais aqueles garotos e trazem novas cargas emocionais, outros desajustes e medos, agora, de homens de 40 e poucos anos de idade.

“Escolha a vida. Escolha o Facebook, o Twitter, o Instagram e espere que alguém em algum lugar se importe. Escolha olhar para os velhos tempos, querendo ter feito tudo diferente e escolha ver a história se repetir. Escolha seu futuro. Escolha programas de reality TV, humilhar mulheres, usar pornô como vingança, escolha um contrato de trabalho sem mínimo de horas, uma ida de duas horas para chegar ao trabalho. E escolha o mesmo para seus filhos, só que pior, e alivie a dor com uma dose desconhecida de uma droga desconhecida feita na cozinha de alguém e então… Respire fundo. Você é um viciado, por isso se vicie. Vicie-se em outra coisa. Escolha o que você ama. Escolha seu futuro. Escolha a vida”.

A reunião do quarteto é um confronto da bagunça que eles fizeram com as próprias vidas.

John Hodge adaptou levemente o roteiro do romance Porno, de Irvine Welsh, as linhas em comum são poucas e o filme caminha num ritmo diferente do livro. Nele, a história acontece 10 anos depois de Trainspotting e a trama se desenvolve a partir da indústria pornográfica (papel oficial de Simon), daí a explicação do nome Porno. (*em breve, resenha do segundo livro no canal)

Por outro lado, Danny Boyle joga na nossa cara um balde de nostalgia. O diretor se mantém muito fiel ao espírito do filme original e também reconhece o quanto mudou e evoluiu durante esse anos. Ele revive seus “tiques” e estilo de filmagem de uma maneira muito mais aprimorada.

Revivemos algumas cenas icônicas de Trainspotting em T2. Choose life!

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