Notícia urgente: moça é moída por escada rolante. É com essa chamada agressiva, encarniçada e com uma música levemente ensurdecedora que o dia de muitos começa. Bom dia.
Ninguém quer, mas a curiosidade força todos a assistirem. Nada é explícito, as reações são adversas: olhos fechados, mãos na boca, queixos caídos, sons estupefatos. Tortura.
No vídeo, uma jovem mãe sobe a tal escada rolante de um provável shopping com seu filho pequeno, os dois chegam ao andar e, ao pisar no final da plataforma, por infelicidade e falta de segurança, os parafusos estão soltos, um buraco se abre e a moça cai, mas consegue afastar a criança. Duas outras mulheres acompanham o terror de camarote e – ou por choque, ou por falta de força, ou apenas por lentidão – não conseguem levantar a coitada dali e, pronto, a manchete está feita.
“Moça é moída por escada rolante”. O vídeo está gravado. Todos se chocam. Você precisa se chocar, caso contrário, soa um pouco estranho.
Aconteceu do outro lado do mundo, dependendo do ponto de vista, mas poderia ter sido em qualquer outro lugar, com qualquer outra pessoa. Quantas pessoas morrem por minuto? Quantas morrerão daqui a alguns segundos? Moídas? Uma escada rolante, essa é boa.
“Destino ou acaso?” é a pauta do horário de almoço medíocre. “A moça foi moída na escada rolante, isso que é azar. Meu bife tá mal passado, que merda.”; “Mas a criança se salvou, GRAÇAS A DEUS! Escuta, vocês não acham que a Clarinha tá dando pro Edu?”; “E a gente com medo de elevador, ein? É claro que ela dá, por que você acha que ela falta tanto?”.
“Moça é moída por escada rolante”.
Todos se distraem com alguma piada qualquer.
A vida segue.
“É só carne.”