Categoria: Desgraçamento Mental ||| por Adriana Cecchi
Indicações de livros pesados e perturbadores para ler em uma sentada.
Desgraçamentos para ler em um dia, obviamente dependendo da sua disponibilidade, possibilidade e foco. O destaque é indicar livros curtos e extremamente marcantes, daqueles que fixam na memória por um bom tempo.
A intenção deste índice é manter-se atualizado com a playlist LIVROS CURTOS PARA DESGRAÇAR A CABEÇA no YouTube e ser um despertar para a literatura & baque mental.
LIVROS PARA LER EM UM DIA (e DESGRAÇAR a CABEÇA por anos)
▪ Pssica; de Edyr Augusto Proença
↪ Boitempo : 122 páginas https://amzn.to/3cGuvbb (disponível Kindle Unlimited)
▪ O Estrangeiro; de Albert Camus
↪ Record : 128 páginas https://amzn.to/3opWMow
▪ Mãos secas com apenas duas folhas; de Paula Febbe
↪ Monomito : 104 páginas https://monomitoeditorial.com/produto/maos-secas-com-apenas-duas-folhas/
▪ A Invenção de Morel; de Adolfo Bioy Casares
↪ Biblioteca Azul : 112 páginas https://amzn.to/3cbYkjM
▪ Mundo Pet; de Lourenço Mutarelli
↪ Comix Zone : 120 páginas https://amzn.to/39oAgs9
▪ Capão Pecado; de Ferréz
↪ Companhia de Bolso : 144 páginas https://amzn.to/39m3fge
▪ A Morte de Ivan Ilitch; de Lev Tolstói
↪ Várias edições : 96 páginas https://amzn.to/3ScX4hA
▪ O Velho e o Mar; de Ernest Hemingway
Bertrand Brasil : 126 páginas https://amzn.to/3ENuy3d
▪ A Filha Primitiva; de Vanessa Passos
↪ José Olympio : 97 páginas https://amzn.to/3BwGQt7 (disponível Kindle Unlimited)
▪ A Revolução dos Bichos; de George Orwell
↪ Várias edições : 150 páginas https://amzn.to/3Vwj0Hs
Um filme que desconforto constante: Speak no Evil, terror dinamarquês dirigido por Christian Tafdrup, causa aflição por ser um terror real, um terror possível.
Toda a atmosfera psicológica existe, mas é constantemente convertida para algo palpável e pela maneira com que lida com o mal dentro daquela realidade. O terror de Speak no Evil está justamente nessa materialidade da angústia que sentimos pelo que pode acontecer. Pelo possível.
A direção de Christian Tafdrup é assertiva na missão de perturbar, de causar incômodo e revolta no espectador. Através do comportamento humano, nos faz pensar nos limites extremos que a tolerância pode nos levar.
Assista ao conteúdo no YouTube: SPEAK NO EVIL 😶: PASSIVIDADE, DESCONFORTO e DESESPERO
Para mais terror gostoso e desgraçamento mental: Redatora de M
“a Náusea sou eu”
O acaso, o absurdo e o vazio. A Náusea é o primeiro romance de Jean-Paul Sartre, considerado pela crítica e pelo próprio autor o mais perfeito de sua sempre inquieta e inovadora carreira.
Publicado pela primeira vez em 1938, A Náusea foi um marco na ficção existencialista e é até hoje um dos textos mais famosos da literatura francesa do século XX.
A Náusea foi a primeira leitura conjunta do Clube dos Caóticos! Para apoiadores do Catarse temos conteúdos exclusivos: grupo de discussão no Telegram; + chat diário; + encontros marcados via chat; + conteúdo semanal extra com meus registros/análises da obra em formato de áudio ou texto. Contribua com o caos!
Assista ao conteúdo no YouTube: A NÁUSEA (Jean-Paul Sartre): ANGÚSTIA e GRATUIDADE EXISTENCIAL
TRECHOS E FRASES DE A NÁUSEA
“Na parede há um buraco branco, o espelho. É uma armadilha. Sei que vou cair nela. Aí está. A coisa cinzenta acaba de aparecer no espelho. Aproximo-me e olho para ela: já não posso mais ir. É um reflexo de meu rosto. Muitas vezes, nesses dias perdidos, fico a contemplá-lo. Não entendo nada desse rosto. Os dos outros têm um sentido. O meu, não.” p.32
“Começo a me reanimar, a me sentir feliz. Ainda não é nada de extraordinário, é uma pequena felicidade de Náusea: ela se espalha no fundo da poça viscosa, no fundo de nosso tempo – o tempo dos suspensórios cor de malva e dos bancos quebrados -, é feita de instantes amplos e frouxos, que se alastram pelas bordas como uma mancha de azeite. Mal nasceu e já parece velha, tenho a impressão de conhecê-la há vinte anos.” p.37
“O que acaba de ocorrer é que a Náusea desapareceu. Quando a voz se elevou no silêncio, senti meu corpo se enrijecer e a Náusea se dissipou.” p.38
“Vejo o futuro. Está ali, pousado na rua, um nadinha mais pálido do que o presente. Que necessidade tem de se realizar? Que vantagem lhe trará isso?… Já me perdi: será que vejo seus gestos ou os prevejo? Já não distingo o presente do futuro e no entanto isso tem uma duração, realiza-se pouco a pouco.” p.47
“É isso o tempo, o tempo inteiramente nu, que vem lentamente à existência, que se faz esperar e, quando chega, nos sentimos enfastiados porque percebemos que já estava ali havia muito tempo.” p.47
“Mas já não vejo nada mais: por mais que vasculhe meu passado, só extraio dele fragmentos de imagens e não sei muito bem o que representam, nem se são recordações ou ficções.” p.49
“(…) construo sonhos a partir de palavras, isso é tudo.” p.49
“Nunca como hoje tive o sentimento tão forte de ser alguém sem dimensões secretas, limitado a meu corpo, aos pensamentos superficiais que sobem dele como bolhas. Construo minhas lembranças com meu presente. Sou repelido para o presente, abandonado nele. Tento em vão ir ter com o passado: não posso fugir de mim mesmo.” p.50
“Alguma coisa começa para terminar: a aventura não se deixa prolongar; só tem sentido através de sua morte. Para essa morte, que será talvez também a minha, sou arrastado inexoravelmente. Cada instante só surge para trazer os que se lhe seguem. Apego-me a cada instante com todo o meu coração: sei que é único; insubstituível – e no entanto não faria um gesto para impedi-lo de se aniquilar.” p.54
“Viver é isso. Mas quando se narra a vida, tudo muda; simplesmente é uma mudança que ninguém nota: a prova é que se fala de histórias verdadeiras. Como se fosse possível haver histórias verdadeiras; os acontecimentos ocorrem num sentido e nós os narramos em sentido inverso.” p.56
“Quis que os momentos de minha vida tivessem uma sequência e uma ordem como os de uma vida que recordamos. O mesmo, ou quase, que tentar capturar o tempo.” p.57