Já era tarde, o sono não chegava, mas era preciso dormir. Tentar, ao menos.
Apaguei a luz, desliguei o notebook, uma última olhada no celular e, pronto, deitei.
Algumas coisas sempre incomodam, então lá vou eu ajeitar as cobertas e trocar a posição dos travesseiros até encontrar a perfeição. Parece que a perfeição não quer se encontrada, até as meias estão esquentando demais, tiro-as e penso: agora sim.
Uma mão por baixo do travesseiro dobrado e o corpo automaticamente vai se recolhendo, as pernas dobram, os joelhos sobem e o outro braço fica perdido naquele meio.
Os olhos fechados por poucos minutos, a pulsação marcada no ouvido, um vazio.
Viro para a esquerda, de cara com a parede, meu lado favorito. Puxo a coberta até a nuca e tento relaxar. Um vazio cravado no peito, mais uma vez. O coração acelerado, bate bate bate forte e não me deixa dormir.
Procuro pelo pato de pelúcia que não é de pelúcia, é feito de poliamida e elastano, mas que fica mais fácil de ser compreendido como pelúcia; enfim, procuro pelo pato e o encontro na metade da cama. Rapidamente trago pra perto aquele bichinho e o coloco perto do peito. Uma vez envolvido com o braço que me sobra, o pato é apertado contra o meu coração como se assim ele pudesse diminuir o ritmo absurdo do mesmo.
A agonia agora é de lembrar às antigas agonias. Quando, na verdade, o tudo não era nada, eu nem podia imaginar o que seria o tudo, ainda.
Cada palavra, cada descoberta, cada medo, cada verdade, cada pensamento, cada saudade… cada um resultava em apenas uma coisa: agonia. Lembrava de cada dia, cada hora uma coisa e, nossa!, mesmo sem ainda saber, a agonia de ontem era por causa do dia, o dia que marcava uma data específica sobre todo esse tempo de agonia.
O tempo passa rápido, sem perceber, e, analisando friamente, não era muito, mas pra quem sente, um dia pode virar uma eternidade.
Dormia, sonhava e acordava. Dormia, sonhava e acordava. Dormia sonhava e acordava.
Sonhos bons e sonhos ruins, ambos se tornavam piores ao despertar. A agonia sempre presente, o coração acelerado por tudo ou nada e o tal pato já nem era mais notado.
Uma noite de vai e vem, uma noite assim, uma manhã assim e, certamente, um dia inteiro assim.
Dizem que o sofrimento é opcional, ok, mas se alguém souber a receita pra se livrar dessa maldita agonia me diz, me liga, me manda. Uma boa eu já conheço, mas essa, bom, essa eu não posso usar.
Adriana Cecchi