Sobre | Projetos | Contato




07nov

Fechei os olhos e me vi ao seu lado.
Estávamos deitados na sua cama, despretensiosamente, assistindo TV.
Você mexia nos meu cabelos e eu, com a cabeça no seu ombro, alisava o seu peito enquanto contava como tinha sido o meu dia.
Você ouvia e contava o seu também.
E eu ouvia.
Nossos pés juntos. Nossas pernas cruzadas.
Nossas mãos dadas. Nossos dedos entrelaçados.
Éramos um. Somente um nós éramos.
Eu ria das bobagens que você falava e das piadas com nome de outras pessoas que você fazia.
Você ria de como eu ria. Descia levemente o dedo no meu nariz só pra eu ficar com sono e você achar graça.
Adormeci no seu colo, você me cobriu com aquela mesma coberta de sempre e eu despertei.
Você levantou o meu rosto e me olhou nos olhos.
Falou coisas lindas, cantou um trecho de uma música e disse saber sobre certas coisas serem para sempre.
Eu podia enxergar através dos seus olhos castanhos tão bonitos, podia enxergar toda a sua sinceridade. Eu podia te ver por dentro, eu podia me ver através dos seus olhos.
Eu sorri e você sorriu.
Você se aproximou e me deu um longo beijo na testa.

E eu acordei.
Acordei como há tempos não acordava.
Eu fechei os olhos e não te vi mais.
Por trás da dor, eu desejei estar lá mais uma vez.
Fechei os olhos de novo e senti uma lágrima cruzar o meu rosto e cair sobre o travesseiro.
Uma após a outra.
Eu desejei estar lá, mesmo sabendo que esse sonho eu não podia mais sonhar.

Adriana Cecchi

Compartilhe:
13set

Era um tempo
Àquelas rosas azuis
Céu cor de rosa
O cheiro do vento
Suas cartas cantadas
E seus sorrisos falados
Os minutos fizeram-se eternos
Ah, tudo tem seu tempo
Agora você me pede pra ficar
Seus olhos me pedem para esperar
Aonde tudo isso vai dar?
Eu já decidi, vou esperar
De um jeito ou de outro
Porque eu sei que é assim
Tanto pra você quanto pra mim
Mas eu também peço
Que não se demore muito
Afinal, a gente não sabe ao certo
Quanto tempo ainda tem

Adriana Cecchi

Compartilhe:
29ago

Já era tarde, o sono não chegava, mas era preciso dormir. Tentar, ao menos.
Apaguei a luz, desliguei o notebook, uma última olhada no celular e, pronto, deitei.
Algumas coisas sempre incomodam, então lá vou eu ajeitar as cobertas e trocar a posição dos travesseiros até encontrar a perfeição. Parece que a perfeição não quer se encontrada, até as meias estão esquentando demais, tiro-as e penso: agora sim.
Uma mão por baixo do travesseiro dobrado e o corpo automaticamente vai se recolhendo, as pernas dobram, os joelhos sobem e o outro braço fica perdido naquele meio.
Os olhos fechados por poucos minutos, a pulsação marcada no ouvido, um vazio.
Viro para a esquerda, de cara com a parede, meu lado favorito. Puxo a coberta até a nuca e tento relaxar. Um vazio cravado no peito, mais uma vez. O coração acelerado, bate bate bate forte e não me deixa dormir.
Procuro pelo pato de pelúcia que não é de pelúcia, é feito de poliamida e elastano, mas que fica mais fácil de ser compreendido como pelúcia; enfim, procuro pelo pato e o encontro na metade da cama. Rapidamente trago pra perto aquele bichinho e o coloco perto do peito. Uma vez envolvido com o braço que me sobra, o pato é apertado contra o meu coração como se assim ele pudesse diminuir o ritmo absurdo do mesmo.
A agonia agora é de lembrar às antigas agonias. Quando, na verdade, o tudo não era nada, eu nem podia imaginar o que seria o tudo, ainda.
Cada palavra, cada descoberta, cada medo, cada verdade, cada pensamento, cada saudade… cada um resultava em apenas uma coisa: agonia. Lembrava de cada dia, cada hora uma coisa e, nossa!, mesmo sem ainda saber, a agonia de ontem era por causa do dia, o dia que marcava uma data específica sobre todo esse tempo de agonia.
O tempo passa rápido, sem perceber, e, analisando friamente, não era muito, mas pra quem sente, um dia pode virar uma eternidade.
Dormia, sonhava e acordava. Dormia, sonhava e acordava. Dormia sonhava e acordava.
Sonhos bons e sonhos ruins, ambos se tornavam piores ao despertar. A agonia sempre presente, o coração acelerado por tudo ou nada e o tal pato já nem era mais notado.
Uma noite de vai e vem, uma noite assim, uma manhã assim e, certamente, um dia inteiro assim.
Dizem que o sofrimento é opcional, ok, mas se alguém souber a receita pra se livrar dessa maldita agonia me diz, me liga, me manda. Uma boa eu já conheço, mas essa, bom, essa eu não posso usar.

Adriana Cecchi

Compartilhe: