A linha tênue entre deixar de ser leitor e tornar-se um personagem. É assim que defino Até o Dia em que o Cão Morreu, de Daniel Galera em apenas uma frase.
Um livro sobre indiferença.
No primeiro romance de Galera, Até o Dia em que o Cão Morreu (2003) conta a história de um homem de 25 anos e que, depois de formar-se em Letras e viajar, decide morar sozinho, vivendo uma vida isolada num apartamento sem móveis e sem ambições.
Vivendo de subempregos e, por que não, de pura sobrevivência, o protagonista sem nome prefere se isolar emocionalmente de todos ao seu redor. Ele mal fala com o porteiro, vê os pais uma vez por semana, e olhe lá.
“Me dava agonia ver alguém se preparando constantemente
pra começar a viver. Eu não conseguia fazer isso.
Parecia bem mais adequado permanecer exatamente onde eu estava,
aceitando que minha vida era aquilo mesmo.” (p. 24)
Personagem sem grandes expectativas, sem grandes movimentações. Assim, apático. “Nada tenho, mas tudo bem”, o famoso “tanto faz, como tanto fez”, cheguei a pensar nos rumos em que a história poderia tomar se seguisse um “padrão clichê”, mas passou bem longe disso.
Resenha: Solitário, sem dinheiro e entendiado em Porto Alegre, um homem ancorado numa adolescência tardia vive um impasse: quando um cachorro e uma modelo chamada Marcela entram em sua vida, ele precisa optar entre um cotidiano sem riscos emocionais e a instabilidade das paixões que se anunciam. (COMPANHIA DAS LETRAS)
Ele encontra um cachorro pela rua (ou será que é o cachorro que o encontra?) e demonstra sua apatia: se o cão quiser ir com ele, que vá, se não, tudo bem também. O cão o acompanha até o prédio e seu apartamento. O cachorro não é dele, é da vida, é livre, se quiser ir embora, ele vai. Então, percebemos que essa atitude que ele tem com o cachorro é quase que metafórica, é uma atitude que ele tem com quase todas as coisas de sua própria vida. As coisas acontecem – ou não – e ele não faz questão de se apegar, não cria vínculos.
O cão não tem nome e assim fica – porque ele não vê necessidade em nomear o cão – até o dia em que Marcela o questiona sobre tal fato e faz o homem dar de vez um nome para o vira-lata: Churras! Marcela é uma modelo que ele conheceu em uma festa e é totalmente seu oposto: cheia de sonhos, cheia de planos e cheia de vida. Os dois têm uma sintonia sexual muito boa, mas vivem uma relação sem regras e sem compromisso – como era de se esperar com toda a apatia do personagem principal.