Sabe, sou do tipo de valoriza e coleciona canetas de ponta fina. Como costumo dizer, escrevo pra me libertar, porque terapia custa caro. E muito!
Escrever sempre foi a minha válvula de escape. Pratico desde que ganhei meu primeiro bloquinho, evoluindo para os diários adolescentes, rabiscando folhas soltas e, cá estou agora, digitando com a cara enfiada na tela do notebook.
Nas linhas consigo mostrar a maior parte do que eu sou. Escrevo, logo não falo. Eu conto a minha história, revelo referências, a escrita é uma pequena extensão do meu próprio corpo, poderia chamar de “terceiro braço”, sem veia nem sangue, sem músculo ou nervo, mas que pulsa através do coração e da mente, fazendo a caneta sangrar em cima do papel.
Dias de dúvidas, tardes ansiosas e noites em claro. A escolha das palavras, a pontuação, a conjugação do verbo, o objeto definido, a oração muitas vezes sem sujeito e a concordância – e por que não a falta dela? – em tempos, é a melhor tradução de meus sentimentos e ideias, construídos na mente e sentidos na pele.
Escrever para tudo, para nada. Escrever para todos, para ninguém. Escrever para mim, para você. Escrever simplesmente porque é o melhor a fazer. Escrever para que as palavras saiam do corpo e se encaixem em outro lugar. Escrever amores e dores, dando adjetivos às alegrias ou conjugando a medida de sal derramado em cada lágrima. Escrever para entender e também exorcizar.
Tantos tempos verbais com tantos tipos de substantivos e eu nunca parei de escrever. Nunca. Talvez algumas pausas, recentes pausas, mas com palavras girando na cabeça feito personagem de desenho animado que acabou de levar uma pancada.
Escreva.
Um incentivo que também serve para mim toda vez que pensar sobre as tais faltas de inspiração e tempo. Escreva sobre o que acontece aí dentro, sobre o que muda por fora ou, então, sobre como tudo é sempre tão igual. Como disse Hemingway: “escreva bêbado, edite sóbrio”.
Mesmo que seja dolorido. Mesmo que não leve a lugar algum. Continue.
Escrever, apesar de.
Adriana Cecchi