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26fev

– Eu adoro a chuva.
– Eu adoro você.
– Eu adoro trovões.
– E eu adoro a tua boca.
– Para!
– Você não acredita em uma palavra que eu digo?
– Eu acredito… Em algumas.
– Eu não te entendo.
– Não precisa.
– Você se fecha aí.
– Vai começar…
– Foge de mim.
– Veja bem.
– É verdade.
– Verdade que não é mentira.
– Sempre tem uma respostinha na ponta da língua.
– Afio todo dia.
– Tá vendo?
– Não. O quê?
– Como é insuportável.
– Mas você gosta.
– Gosto.
– Viu.
– Até quando vai fingir que não sente nada por ninguém?
– Nossa! Viu esse? Eu adoro raios.

Adriana Cecchi

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06jan

Não chega tão perto
Que eu fico confusa
Já não sei se é certo
O jeito que me usa

Eu vou te contar
Contar o que sonhei
Noite passada me faltou o ar
De tanto que gritei

Veio como quem não quer nada
Decidido,
Mas devagar
Achei que fosse piada

Indefesa e sem munição
Num golpe certeiro
Enfiou uma estaca em meu coração

E o pior de tudo é que depois disso
Eu não queria, mas
Você virou o meu maior vício

Adriana Cecchi

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09dez

Sabe, sou do tipo de valoriza e coleciona canetas de ponta fina. Como costumo dizer, escrevo pra me libertar, porque terapia custa caro. E muito!

Escrever sempre foi a minha válvula de escape. Pratico desde que ganhei meu primeiro bloquinho, evoluindo para os diários adolescentes, rabiscando folhas soltas e, cá estou agora, digitando com a cara enfiada na tela do notebook.

Nas linhas consigo mostrar a maior parte do que eu sou. Escrevo, logo não falo. Eu conto a minha história, revelo referências, a escrita é uma pequena extensão do meu próprio corpo, poderia chamar de “terceiro braço”, sem veia nem sangue, sem músculo ou nervo, mas que pulsa através do coração e da mente, fazendo a caneta sangrar em cima do papel.

Dias de dúvidas, tardes ansiosas e noites em claro. A escolha das palavras, a pontuação, a conjugação do verbo, o objeto definido, a oração muitas vezes sem sujeito e a concordância – e por que não a falta dela? – em tempos, é a melhor tradução de meus sentimentos e ideias, construídos na mente e sentidos na pele.

Escrever para tudo, para nada. Escrever para todos, para ninguém. Escrever para mim, para você. Escrever simplesmente porque é o melhor a fazer. Escrever para que as palavras saiam do corpo e se encaixem em outro lugar. Escrever amores e dores, dando adjetivos às alegrias ou conjugando a medida de sal derramado em cada lágrima. Escrever para entender e também exorcizar.

Tantos tempos verbais com tantos tipos de substantivos e eu nunca parei de escrever. Nunca. Talvez algumas pausas, recentes pausas, mas com palavras girando na cabeça feito personagem de desenho animado que acabou de levar uma pancada.

Escreva.

Um incentivo que também serve para mim toda vez que pensar sobre as tais faltas de inspiração e tempo. Escreva sobre o que acontece aí dentro, sobre o que muda por fora ou, então, sobre como tudo é sempre tão igual. Como disse Hemingway: “escreva bêbado, edite sóbrio”.

Mesmo que seja dolorido. Mesmo que não leve a lugar algum. Continue.

Escrever, apesar de.

Adriana Cecchi

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