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05out

Primeira coluna de autores convidados, texto por Stephanie Roque

O rádio do carro demorou para sintonizar no programa que alerta os motoristas sobre o trânsito, e por isso, fiquei preso num congestionamento de volta pra casa. Fiquei tempo suficiente para contar as moedas que estavam guardadas no carro, separar as contas e ler um capítulo do livro que um rapaz do trabalho me emprestou.
Quando cheguei em casa, deparei-me com Rita sentada nas escadas, com fones de ouvido, lendo um livro. Ela já estava de pijamas, mas continuava linda. Seus cabelos estavam trançados e seus olhos castanhos-claros se ergueram ao me ver. Meus olhos, como resposta, quase suplicaram por um toque dela. Cheguei bem perto, e ao tirar-lhe os fones, minha barba roçou em sua pele quando meus lábios a tocaram.
“Olá”, eu disse.
Ela me abraçou com força, mas continuou sentada.
No momento em que entrei, Guillermo dormia dentro do berço. Com cuidado para não acordá-lo, tirei a gravata e os sapatos, e entrei no banheiro. Tomei um longo banho esperando que a água quente dissolvesse a tensão dos meus ombros. Pensei por alguns segundos na bela mulher que me dera seu número de telefone hoje, mas voltei a pensar nas papeladas da empresa. Em algum momento, Rita entrou no banheiro sem que eu visse e desenhou no espelho embaçado um sorriso.
Quando saí, vi que Guillermo já estava em seu quarto e que Rita me chamava do lado de fora. Perguntou-me como fora o dia de trabalho e me contara tudo o que fizera durante o seu. Chamou-me para entrar e disse que guardara o jantar para mim. E eu pude ver o quanto ela é a mulher mais linda do mundo, minha esposa e mãe do meu filho.
Conversamos durante o jantar e depois, enquanto eu lavava a louça, ela secava. Como numa imagem de cinema, pude notar que além do meu corpo, éramos felizes. Contudo, olhando para dentro de mim, eu não poderia – e nunca iria – amar somente Rita. E ela sabia disso.
No banheiro, enquanto ela escovava os dentes, eu aparava a barba. Enquanto eu escovava os dentes, ela tirava do frasquinho seus três anti-depressivos.
Ao nos deitarmos, ela me beijou por mais tempo que o habitual, disse o quanto me amava e entrelaçou suas mãos uma na outra, encolhendo-se debaixo do lençol. Naquele momento, vi o quanto Rita estava solitária. Beijei sua testa e me virei de costas, pensando em outras mulheres, e me culpando por não muito prestar.
Mas eu a amo.

Stephanie Roque

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24maio

Para ouvir: Patience

Não sei de onde você veio, mas fica
Entra
Pode deixar as malas ali no canto
Não precisa abri-las por enquanto

Vem, senta
Pega uma almofada
Tira os sapatos
Fica à vontade
Conte como foi o seu dia, como foi o seu caminho até aqui

Eu vou fazer um café pra gente
Daqueles bem fortes e com pouco açúcar
É bom pro frio
Espero que goste

Comente como está a temperatura lá fora e reclame do que estiver passando na TV
Vamos conversar sobre qualquer outra banalidade
Até que não reste nenhuma gota em nossas xícaras
Nem uma palavra, nem nada
Até que não haja tempo pra essa pouca distância entre nós

Lábios e olhares
Olhares e lábios
Não são mais suficientes
Chega mais perto
Mais perto
Bem mais
Peço agora que apenas
Sinta o momento…

Foi isso que eu imaginei durante a minha mudez ao telefone, mas você desligou, não deu tempo de te contar. Paciência, ouvi dizer que “tudo que precisamos é de um pouco de paciência”.

 

Adriana Cecchi

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24abr

A música traz de volta o gosto da tristeza

Daquele momento que se viveu

Do que deixou de ser vivido

No âmbito da dor

Retorna e vai, revira e volta

Não mais

Apenas lembranças

De um tempo que se foi

Junto com a música que o trouxe

Longe

Sem delonga

Sem saudade

Adriana Cecchi

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