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08ago

Fechei as portas do passado
Eu não queria mais ouvir
Aquela voz que me fazia partir
Toda vez que você chegava
Eu sei, eu já saí
Mas nunca desisti
De te ver sorrir
Mais uma vez
Pela última vez
Estou aqui
Agora
E é onde eu quero sempre estar
Neste mesmo lugar

Adriana Cecchi

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05ago

Sexta-feira, noite fria.
Ela estava ali, sozinha no enorme sofá recostada em algumas almofadas atrás de sua cabeça.
Havia uma luz que iluminava o seu rosto. Era a TV com o filme chato. Chato e que ela já tinha assistido.
Não importava. O filme era uma distração pro momento. Era pra se livrar daquele momento.
Tudo parecia vazio; vazio e estranho, e calmo demais, e…
Ela não queria estar ali, mas não tinha pra onde ir. O filme era a sua fuga mais próxima.
O sono chega. As pálpebras pesam. O pescoço tomba.
O telefone toca.
Num susto, meio zonza atende na metade do terceiro toque com um tom arrastado:
— Alô?
— Oi. Hm, tá tudo bem?
— Tudo, tava dormindo…
— Eu imaginei, mas tinha que tentar.
— Tentar o quê?
— Ligar, falar com você.
— O que aconteceu?
— Eu não sei. É difícil, eu não sei explicar.
— Fala.
— Queria passar aí.
— Já é tarde… Melhor amanhã, não?
— Você está diferente.
— Como?
— Não quer falar, parece não se importar.
— Eu tive um bom professor.
— Grande erro.
— Eu me importo.
— Eu sei.
— Que bom.
— Bom era isso…
— Mas você não disse nada.
— Porque você não deixa!
— Amanhã, amanhã.
— Você é complicada.
— Não sou não, só estou com sono, e…
— Desculpe.
— Beijos.
— Um beijo, dorme bem.

 

Desligou o telefone e ainda continuou por um tempo como ele na mão. Largou o aparelho e caiu no sofá de novo.
Mas ela não ia dormir. Muito menos voltar a assistir ao mesmo filme.

 

Adriana Cecchi

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