Sexta-feira, noite fria.
Ela estava ali, sozinha no enorme sofá recostada em algumas almofadas atrás de sua cabeça.
Havia uma luz que iluminava o seu rosto. Era a TV com o filme chato. Chato e que ela já tinha assistido.
Não importava. O filme era uma distração pro momento. Era pra se livrar daquele momento.
Tudo parecia vazio; vazio e estranho, e calmo demais, e…
Ela não queria estar ali, mas não tinha pra onde ir. O filme era a sua fuga mais próxima.
O sono chega. As pálpebras pesam. O pescoço tomba.
O telefone toca.
Num susto, meio zonza atende na metade do terceiro toque com um tom arrastado:
— Alô?
— Oi. Hm, tá tudo bem?
— Tudo, tava dormindo…
— Eu imaginei, mas tinha que tentar.
— Tentar o quê?
— Ligar, falar com você.
— O que aconteceu?
— Eu não sei. É difícil, eu não sei explicar.
— Fala.
— Queria passar aí.
— Já é tarde… Melhor amanhã, não?
— Você está diferente.
— Como?
— Não quer falar, parece não se importar.
— Eu tive um bom professor.
— Grande erro.
— Eu me importo.
— Eu sei.
— Que bom.
— Bom era isso…
— Mas você não disse nada.
— Porque você não deixa!
— Amanhã, amanhã.
— Você é complicada.
— Não sou não, só estou com sono, e…
— Desculpe.
— Beijos.
— Um beijo, dorme bem.
Desligou o telefone e ainda continuou por um tempo como ele na mão. Largou o aparelho e caiu no sofá de novo.
Mas ela não ia dormir. Muito menos voltar a assistir ao mesmo filme.
Adriana Cecchi