Arctic Monkeys – You’re So Dark
De acordo com o dicionário, morbidez é a manifestação de fascínio com assuntos considerados sinistros ou trágicos, como por exemplo a morte. Não sei quanto a vocês, mas eu sou constantemente chamada de “mórbida” pelas pessoas. Assim, não nego.
Sorte minha não estar sozinha nesse mar mórbido e vamo nessa desmistificar tabus.
Veja também: minha coleção Crime Scene e Livros sobre Psicopatas
Minha última leitura fez com que esse post surgisse, a seguir, 3 dicas de livros para quem tem um gostinho ligeiramente peculiar.
CONFISSÕES DO CREMATÓRIO
Um livro para quem planeja morrer um dia
“Embora você possa nunca ter ido a um enterro, dois humanos do planeta morrem por segundo. Oito no tempo que você levou para ler essa frase.” E é assim que Caitlin Doughty inicia o capítulo “Palitos de Dente em Gelatina” no livro Confissões do Crematório, a minha última leitura e lançamento caprichado da DarkSide Books.
Caitlin Doughty é agente funerária, escritora e tem um canal no YouTube, em Smoke Gets in Your Eyes (Confissões do Crematório), a autora relata diversas memórias da época em que trabalhou em um crematório, todas com bom humor sobre a morte e as práticas da “indústria da morte“.
O livro reúne histórias reais do dia a dia de uma casa funerária, inúmeras curiosidades e fatos históricos, mitológicos e filosóficos. Caitlin começou a trabalhar no crematório aos 23 anos e, ao mesmo tempo em que barbeava e incinerava cadáveres, tirava lições de vida com a morte, irônico, não é mesmo? Enquanto varre as cinzas das máquinas de incineração ou explica com o que um crânio em chamas se parece, ela desmistifica a morte para si e para seus leitores.
“Eu me tornei funcionalmente mórbida, obcecada pela morte,
por doenças e por trevas, mas ainda era capaz de passar
por uma estudante quase normal.”
Enquanto a maioria das pessoas preferem evitar pensar em morte e/ou ver corpos mortos, a autora compartilha o seu fascínio e como foi o seu primeiro encontro direto com a morte, ainda era criança, viu outra menina cair de uma altura de 10m de uma escada rolante. O som da queda, o baque terrível, ficou em sua memória e se repetiria por um bom tempo. Durante sua infância considerava apenas um “batuque”, hoje explica que esses baques são chamados de sintomas de síndrome de estresse pós-traumático.
“Somos animais glorificados que comem, cagam e estão fadados a morrer.
Não somos nada mais do que futuros cadáveres.”
Corpos embalsamados, o que acontece com os corpos doados para ciência, a reação das famílias, truques para apresentar melhor os cadáveres, rituais fúnebres, fatos sobre cultura, história e filosofia e, o essencial, tudo realidade.
Confissões do Crematório é um livro de histórias verdadeiras e pessoas reais. Caitlin Doughty é muito autêntica e aborda a questão da morte como você provavelmente nunca viu antes. Diria que é uma leitura essencial e transformadora.
Vai ter vídeo sobre o livro no Canal, aguardem :)
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SANGUE E ENTRANHAS –
A ASSUSTADORA HISTÓRIA DA CIRURGIA
Uma trajetória de erros sanguinolentos e acertos heroicos
Episódios horripilantes, transplantes que deram errado, membros amputados remendados da forma mais grosseira possível, óleo quente para estancar o sangue, cirurgias plásticas que mais desfiguravam do que embelezavam e uma das mais abomináveis práticas de todos os tempos: a lobotomia. Cê tá pronto pra isso?
Já imaginou o tempo em que o simples raio X não existia? Fazer uma cirurgia sem anestesia? Sem antibióticos, sem nem uma sala esterilizada para impedir infecções. Pois é, o livro Sangue e Entranhas, da Geração Editorial, vai te dar uma boa base sobre a história da cirurgia.
Ao tentar salvar vidas, os cirurgiões antigamente mataram mais pacientes do que salvaram. E mesmo que o paciente (uma “vítima”, no caso) sobrevivesse por milagre à operação, o mais provável é que ele ficasse com alguma sequela pelo resto da vida.
Sangue e Entanhas tem uma narrativa instigante e macabra sobre cadáveres roubados, fraudes médicas, pacientes lobotomizados, e, ocasionalmente heroicos progressos na medicina obtidos por profissionais corajosos, que ajudaram milhões de pessoas no mundo inteiro.
Histórias sobre os pioneiros da cirurgia, por exemplo como a do cirurgião Robert Liston, que durante uma amputação acidentalmente cortou os dedos de seu assistente, matando-o junto com o paciente de infecção e a uma pessoa que observava o procedimento de choque.
“Entrar na faca” já foi muito mais perigoso que hoje em dia
O número de mortes de mulheres no parto era absurdo, isso se devia ao simples ato de lavar a mão. Os médicos muitas vezes vinham direto do necrotério para fazer o parto, mãos contaminadas e o resto nem preciso falar mais, né?
Até que os quatro pilares da cirurgia – conhecimento da anatomia, capacidade de controlar sangramentos e suspender o fluxo sanguíneo, anestesia e técnicas de assepsia – fossem desenvolvidos, a vida de muitas pessoas esvaía-se.
Com um estilo capaz de tornar apaixonante até o tema mais macabro, o jornalista britânico e escritor de ciência Richard Hollingham nos horroriza e ao mesmo tempo nos fascina com sua narrativa empolgante e vivaz sobre diversos procedimentos experimentais. Hoje em dia, espantosos avanços cirúrgicos têm tornado possíveis transplantes e outras operações nunca sequer imaginadas anteriormente.
Se tiver estômago forte, só vai!
P.s.: as histórias sobre dentistas são extremamente aflitivas.
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A CONDESSA SANGRENTA
“O criminoso não faz a beleza, ele próprio é a autêntica beleza” – Sartre
Com La condesa sangrienta, a escritora e poetisa argentina Alejandra Pizarnik alcançou um dos ápices de sua literatura, elaborando um retrato perturbador do sadismo e da loucura.
A Condessa Sangrenta é literatura, mas, em suma, não é ficção. A condessa húngara Erzébet Báthory (1560-1614) foi condenada pelo assassinato de 650 jovens mulheres em 1611. Um dos raros títulos em prosa dessa autora que escreveu sobretudo poesia – relato ficcional baseado em fatos horrivelmente reais.
A história da condessa Báthory, mesmo levando-se em conta uma possível “leyenda negra” construída em torno de sua vida, é marcada pela radicalização do que hoje chamamos de “sadismo”. Marcada pela perversão e pela demência, a Dama de Csejthe passou para a história como um símbolo do mal absoluto. Em seus crimes se vislumbravam os limites extremos do horror.
“(…) fazia-se necessário, à noite, espalhar grandes quantidades de cinza
ao redor do leito para que a nobre dama atravessasse
sem dificuldade as vastas poças de sangue.”
A autora descreve, em capítulos especialmente reservados, os principais métodos de tortura da condessa – que a tudo observava com impassível serenidade. Aliadas às tenebrosas e fascinantes e belas ilustrações de Santiago Caruso. A edição do selo Tordesilhas em capa dura e tratamento especialmente macabro.
Curiosidade: Madame Lalaurie, personagem de Kathy Bates na terceira temporada de American Horror Story, Coven, foi diretamente inspirada na história da condessa Bathory.
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Não sei o que eu curti mais:
– a seleção dos livros
– o título do post
– as fotos
– seus comentários sobre
Cê manda muito bem, Dricão <3333
Ai que querida <333 Fico feliz demais que tenha gostado, Quel :)
Obrigada, obrigada!
Quero todos.
Não brinca comigo. Agora tenho mais 3 livros na lista. Essa história da Condessa Sangrenta nossa… pro topo da lista. AHS S2
Fiquei na vontade estranha de ler algo “com uma dose de morbidez”… hmm… tenho um livro sobre múmias aqui. Partiu \o/
Ah, tem um “r” engolido no 4º parágrafo da parte sobre o livro “Sangue e Entranhas”, tá “entanhas”. =P
P.S.: dentistas… sempre eles…
fiquei querendo ler todos sim ou com certeza? help
Tava lendo os comentários na internet sobre o livro da Caitlin e caí nesse seu post maravilhoso. Não podia ter seleção melhor de livros. Gosto muito de tudo o que tu faz! <3