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23maio

Quero escutar tuas coxas, queimar minha orelha nelas
Me aproximo e penso em te pedir um abraço
E então, com os olhos
Apenas com os olhos, entro nos teus olhos coloridos em verde
Lá embaixo, os pés. As meias atrapalham
Os pés se viram até ficarem nus e dançarem no ar
Esse mesmo ar que você respira
Que sai da tua boca e vem pra minha
Inspira
Quero deitar na tua fala quando você fala
Este medo que agora sinto
Vem das tuas curvas tão leves e tão brancas
Observo o consentimento e encosto minha mão
Apertas os lábios e, rijo, só penso na tua reação
A cada toque concluo
Já não posso mais estar perto sem querer te sentir
Por fora, por dentro
Te trago pra perto
Você se mexe bem pouquinho
E eu te assisto
De leve
Devagarinho

Adriana Cecchi

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05abr

A ponta do lápis quebrou
Nem a borracha pode apagar
O vinco que o grafite deixou
Rasguei a folha ao meio e a amassei
E para longe o sulfite rabiscado eu arremessei
Descartável

Girei o registro do chuveiro
A água quente caía durante o banho
E deixava uma nuvem branca no banheiro
Passou por todo meu corpo cheio de sabão
Escorrendo pelo ralo sem mais necessidade pelo vão
Descartável

O cheiro de azedo subiu e empesteou o lugar
Deixaram aberta a tampa da panela de feijão
Tão ruim que até faltou o ar
Minha mãe diria que é pecado perder comida assim
Mas não há nada mais que esse feijão possa fazer por mim
Descartável

Ela disse que me amava com uma lágrima no rosto
Dei um passo pra trás e, por tudo que é mais sagrado,
Respondi-lhe que não poderia assumir esse posto
Fechou os olhos e deu meia volta
Vi se afastar até perdê-la de vista, mas toda noite ao deitar
É só ela quem eu penso em abraçar.

Adriana Cecchi

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12mar

Eu não sei o que é isso, doutor.
Será que vou mesmo partir sem entender?
Infelizmente não tenho como precisar quando tudo começou.
Isso que me aperta o peito. Que me pulsa na cabeça. Que cora o rosto.
Só me dei conta da seriedade ontem, pois acordei no meio da noite aos calafrios.
Coisa boa não pode ser, de fato.
Pode dizer, doutor. Vai.
As pessoas reparam, as pessoas comentam.
Parece quem todos percebem.
Já ouvi história de gente que se matou logo após os sintomas.
Sabe, os vizinhos costumam falar de gente que vive avoada.
De repente alguém começa a rir à toa. Depois surta. Logo enlouquece.
Eu já vi. Sei como é. Até de corda no pescoço me contaram, meu deus.
Tem nome essa doença, esse cão dos infernos.
Será contagioso? Pela água?
Pelo ar! Só pode!
Mas doutor, não enrole.
Me diga logo, eu aguento a verdade.
Quanto tempo ainda me resta?

Adriana Cecchi

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