Categoria: Desgraçamento Mental ||| por Adriana Cecchi
Um nome forte, uma capa forte e uma história forte. Ao receber este livro do próprio autor, Guilherme Oak, confesso que julguei o livro pela capa, julguei bem e julguei certo. Posso dizer que é um dos livros mais pesados que já li e é excelente.
De antemão, não é um livro que pode agradar todos os gostos, ele não é “fácil”, apesar de ser uma ficção, tem uma temática real, bastante polêmica e difícil de lidar.
AQUELE DIA EM QUE DEUS ESTAVA OCUPADO DEMAIS é história de três crianças, um padre, uma tarde de julho e todas as consequências provenientes dessa tarde. É também uma reflexão sobre a suposta onipresença divina e suas inúmeras injustiças através do tempo. (SITE)
Narrado em terceira pessoa, o livro tem 15 capítulos e cada um intercala os pontos de vista entre presente e passado da trama – início da década de 1990 e 2012. Ambientado em São Paulo, para quem mora ou conhece a cidade é um prato cheio de detalhes através de nomes de ruas, bairros, igrejas, etc.
Pedro, Lucas e sua irmã, Natália, são crianças comuns da classe média paulistana. Estudam em colégio particular e são filhos de mães católicas. Desenvolvem certo tipo de amizade incomum à idade e às peculiaridades de cada um. Vivem intensamente as maravilhas inocentes do ano de 1993 e encontram o pesadelo de uma vida no ano de 1994. Acometidos pelo desejo nojento e impuro de alguém que deveria ser puro, são vítimas de abuso sexual dentro da Paróquia Nossa Senhora do Ó. Os anos passam e, em 2012, Pedro e Lucas se reencontram acidentalmente. Lembranças e sentimentos são revolvidos durante o inesperado encontro, fazendo-os enfrentar o passado e repensar o futuro.
– Vi a Roberta ontem.
– Ah é? E como é que ela tá?
– Do mesmo jeito de quando tinha 15. Reclamando das mesmas coisas, falando mal das mesmas pessoas…
– O de sempre.
– Pois é, o de sempre.
– Deve ser chato não conseguir lidar com o fracasso da própria vida e ter que sempre falar dos outros. Cansativo.
– Pensei a mesma coisa. Mas o ser humano merda é assim, enquanto não se acerta sozinho, busca erros nos outros.
– A famosa “triste, mas verdade”?
– Vamos levando e lamentando.
– É o que está ao nosso alcance. Garçom, por favor…
– O de sempre, jovens?
Em um poema publicado postumamente, Charles Bukowski (1920-1994) escreveu que teria tido êxito na vida “se vocês lerem isso muito tempo depois de eu morrer”. E, olha só, aqui estamos.
O Velho Safado era um grande escritor e um grande poeta, entre livros de crônicas, memórias e romances de Charles Bukowski, eu sempre tive uma tendência maior a apreciar seus poemas. As Pessoas Parecem Flores Finalmente é o quinto (e último) volume póstumo do autor composto integralmente por poemas inéditos.
Sem muitas regras, as obras do velho Buk não demonstram demasiadas preocupações estruturais. Estilo livre, escrita imediatista e temas de caráter autobiográfico, como: prostitutas, sexo, alcoolismo, ressacas, corridas de cavalos, pessoas miseráveis e experiências escatológicas – um autor AME ou ODEIE, talvez. Eu amo e, volta e meia, sou surpreendida por ele.
Essa edição grandinha e gordinha (quase 300 páginas) é dividida em quatro partes introduzidas com alguns versos:
1- o coração ruge como um leão
diante do que nos fizeram
As composições da primeira parte versam sobre incidentes ocorridos antes de Bukowski começar a publicar mais prolificamente, na década de 1960. Destaque para os poemas: “pessoas como flores” (p. 25) e “o minuto” (p. 33 e foto abaixo).