Categoria: Desgraçamento Mental ||| por Adriana Cecchi
Tenho pensado tanto em você
Que mal sei o que dizer
Até ouço seu cabelo crescer
E o seu suor escorrer
Sinto seu perfume no ar
Seu coração pulsar
Sua veia dilatar
Seu olhar paralisar
Vai, vai pra longe
Porque com isso a brotar
Vai, vai agora
Não há o que pensar
Mas não entendo o ditado
De que se meu coração
Tivesse quebrado
Eu estaria morto e enterrado
Adriana Cecchi
Ainda não encontrei uma abreviatura para o nome
Tampouco um conectivo para todos estes fonemas
Mas tem tanto meu em tudo
Que ele não admite
E eu
Nem preciso definir
Nada parece o que é
Tem a música, o adjetivo
O livro, a adversativa
Menos troféus
Mais concordância
Menos pontuação
É pedir muito?
E todos esses pronomes possessivos
Intrínsicos. Insuportáveis
A minha na sua
A sua em mim
Tão impessoais
E todas as orações subordinadas
Os objetos indefinidos
As metáforas e os superlativos?
Sujeitos sem predicado
Singulares em verbos e olhares
Plurais em números e vontades
E versos
Pedintes
Não vejo, não peço
Peco
E observo
De longe
Cada vez mais
Longe
Adriana Cecchi
– Por que você tem um colchão tão grande se sua cama está sempre tão vazia?
A pergunta caiu num baque em sua cabeça.
Ela parou para pensar em tudo que fazia.
Seria a cama uma metáfora de sua vida?
Sempre tão vazia e tão gelada.
Viu que não se importava.
Preferia assim.
Em meio a um furacão de memórias, lembrou-se dos dias em pranto.
Das épocas sem paz.
Das noites mal dormidas, das madrugadas em claro.
Dos apertos no peito e das fisgadas que pareciam fazer seu coração parar de bater.
Da imensa saudade.
Horas eternas, minutos soluçando.
Dia após dia.
Pensou nas milhares de vezes que acordou com os olhos inchados e nas tantas que desejou nunca mais poder levantar da cama.
Cada passo que deu, cada lágrima que enxugou, cada sorriso que desperdiçou, cada abraço que negou.
E o que um dia pareceu ser uma batalha interminável, terminou.
Viveu, aprendeu, passou .
Depois de longos minutos com a cabeça longe, olhou fixamente para aqueles belos olhos que a acompanhavam, e respondeu:
– É que eu me mexo muito durante a noite, sabe, prefiro dormir sozinha.
Ele engoliu seco e afastou as cobertas. Levantou, recolheu suas roupas que estavam no chão, saiu e fechou a porta, mas sem bater.
E nunca mais voltou.
Adriana Cecchi