Categoria: Desgraçamento Mental ||| por Adriana Cecchi
Um cara criativo, um artista que é conhecido por fazer esculturas com objetos de madeira, resolve dar vida a caveiras através de objetos de decoração e muita perspectiva.
A — Oi.
B — Oi.
A — O que você tá fazendo aqui?
B — Não sei…
A — Você tem que saber. Deveria saber.
B — …
A — O que você quer?
B — Você.
A — Agora? E você acha que é assim?
B — Não, eu não acho. Eu nem sei o que eu acho, eu sei lá.
A — Você me confunde demais, sério.
B — E eu me confundo também.
A — Você não sabe o que quer.
B — Eu, eu…
A — Aliás, você sabe sim, você sabe o que não quer. E só.
B — Talvez.
A — Não é o que você queria.
B — Não sei se concordo.
A — Se fosse, você não estaria aqui agora.
B — Eu sei disso.
A — Você não estaria aqui nem gostaria de estar.
B — Eu não sei o que dizer.
A — Nem eu. Muito menos eu.
B — Ando pensando demais… Eu ando sentindo coisas demais.
A — Aonde você quer chegar?
B — Não deveria ser tão difícil assim.
A — Pra mim sempre foi difícil, mas não, acho que não deveria ser assim mesmo.
B — Você quer que eu suma?
A — Não. É claro que não!
B — Que bom porque eu também não quero sumir.
A — Não some, eu não sumo, não tem porquê sumir.
B — É… Eu acho que vou embora agora. Preciso descansar, espairecer…
A — Eu também, bastante.
B — Se cuida, tá?
A — Pode deixar e, ei… Se cuida também.
B — A gente se fala.
A — Tá bom!
Beijos
A — Tchau.
B — Tchau…
Adriana Cecchi
Fechei os olhos e me vi ao seu lado.
Estávamos deitados na sua cama, despretensiosamente, assistindo TV.
Você mexia nos meu cabelos e eu, com a cabeça no seu ombro, alisava o seu peito enquanto contava como tinha sido o meu dia.
Você ouvia e contava o seu também.
E eu ouvia.
Nossos pés juntos. Nossas pernas cruzadas.
Nossas mãos dadas. Nossos dedos entrelaçados.
Éramos um. Somente um nós éramos.
Eu ria das bobagens que você falava e das piadas com nome de outras pessoas que você fazia.
Você ria de como eu ria. Descia levemente o dedo no meu nariz só pra eu ficar com sono e você achar graça.
Adormeci no seu colo, você me cobriu com aquela mesma coberta de sempre e eu despertei.
Você levantou o meu rosto e me olhou nos olhos.
Falou coisas lindas, cantou um trecho de uma música e disse saber sobre certas coisas serem para sempre.
Eu podia enxergar através dos seus olhos castanhos tão bonitos, podia enxergar toda a sua sinceridade. Eu podia te ver por dentro, eu podia me ver através dos seus olhos.
Eu sorri e você sorriu.
Você se aproximou e me deu um longo beijo na testa.
E eu acordei.
Acordei como há tempos não acordava.
Eu fechei os olhos e não te vi mais.
Por trás da dor, eu desejei estar lá mais uma vez.
Fechei os olhos de novo e senti uma lágrima cruzar o meu rosto e cair sobre o travesseiro.
Uma após a outra.
Eu desejei estar lá, mesmo sabendo que esse sonho eu não podia mais sonhar.
Adriana Cecchi