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02set

With your feet on the air and your head on the ground
Try this trick and spin it, yeah
Your head will collapse but there’s nothing in it
And you’ll ask yourself
Pixies

Vou escrever tudo o que eu quiser. E o que eu não quiser também.

Você sempre faz isso, ninguém quer saber.

Não que exista muito controle sobre isso, eu simplesmente escrevo. Na verdade, eu não escrevo, eu sangro.

Sangra nada, você é cheio de frescura.

A minha tinta é feita de sangue e meu papel são todos esses pensamentos que insistem em me atormentar.

Eu acho que você deveria tentar algo novo.

Tipo correr, tipo aprender violão, tipo pintar um quadro?

Onde está a sua mente agora?

Eu não faço a menor ideia e devo dizer que prefiro assim. A mente pode ser um lugar muito obscuro.

Cala essa boca.

Nas mãos erradas, a mente é o lugar mais perigoso que um humano poderá conhecer.

Não acha que está indo longe demais?

Longe estaria se pulasse agora desse parapeito e…

Endireite-se, as pessoas vão olhar.

Eu não quero nem saber, eu não me importo. Tudo o que digo é a mais pura verdade, a minha verdade.

Eu fiz de novo.

Estou falando sozinho. Droga.

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20ago

— Eu preciso me livrar de você.
— Mas você nunca me teve.
— Por isso mesmo.
— Isso o quê?
— É autoexplicativo.
— Você é complicada.
— Eu?
— Tá, e vai fazer o quê?
— Pensei em desovar seu corpo num lugar aqui perto.
— Legal, agora tô tranquilo.
— Pode ficar.
— Não quero que se livre de mim.
— Mas também não quer o contrário.
— Isso é verdade…
— Eu entendo. Eu sei como é.
— Eu sei que você sabe.
— Afinal, você, de algum jeito, consegue saber tudo sobre mim.
— Isso eu ainda não sei como.
— E depois vem dizer que eu sou a complicada.
— Eu sou complicado.
— Sim.
— Vai lá preparar um café pra gente, vai.
— Eu vou, mas no seu não vai ter açúcar.

Adriana Cecchi

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02out

Ainda não me acostumei com essa intimidade transformada em diplomacia. Essa polidez. Essa educação. É como se eu nunca tivesse sentido um suspiro longo e profundo seu ao pé do meu ouvido.
Oi, como está?
Logo nós, que completávamos a fala um do outro, agora, não passamos da mera trivialidade.
E em casa, tudo bem?
Me sinto desconfortável. Chega a ser sufocante te conhecer tão bem.
Trabalhando muito?
A página foi virada para ambos, não há outra chance, não há outro meio.
Ouvi que vem uma frente fria na sexta.
A falta de espontaneidade pesa cruelmente em cada frase.
E aí, tem falado com Fulano?
Já bastamos um para o outro por horas, talvez até por dias.
“Risos” Ele sempre some mesmo.
Seu cheiro, que por vezes impregnou em meu suor, agora é só uma lembrança distante.
Você está diferente.
O verbo dói, mas o sujeito não sofre. Não mais.
Acho que você emagreceu, hein.
Você que já soube a medida exata de cada pedaço, cada parte, cada leve curva do meu corpo.
Você ainda tem meu número?
Perdemos o jeito com o nosso abraço. Não sei qual intensidade usar. Perdemos nossa alquimia.
Então tá, a gente vai se falando por aí.
O desconforto por já termos sido íntimos demais. Agora não sabemos como terminar uma conversa. Duelamos nosso adeus.
Tchau, se cuida.
E então, caminhamos em sentidos contrários.
Mais fácil assim.
Sem passos para nos prender.
Sem sentimentos para nos manter.
Sem mãos para nos tocar.
Sem olhares para nos dilacerar.
Seguimos.
Com dois nós na garganta.
Como dois estranhos.
Enfim.

Adriana Cecchi


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