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13nov

– Por que você tem um colchão tão grande se sua cama está sempre tão vazia?

A pergunta caiu num baque em sua cabeça.
Ela parou para pensar em tudo que fazia.
Seria a cama uma metáfora de sua vida?
Sempre tão vazia e tão gelada.
Viu que não se importava.
Preferia assim.
Em meio a um furacão de memórias, lembrou-se dos dias em pranto.
Das épocas sem paz.
Das noites mal dormidas, das madrugadas em claro.
Dos apertos no peito e das fisgadas que pareciam fazer seu coração parar de bater.
Da imensa saudade.
Horas eternas, minutos soluçando.
Dia após dia.
Pensou nas milhares de vezes que acordou com os olhos inchados e nas tantas que desejou nunca mais poder levantar da cama.
Cada passo que deu, cada lágrima que enxugou, cada sorriso que desperdiçou, cada abraço que negou.
E o que um dia pareceu ser uma batalha interminável, terminou.
Viveu, aprendeu, passou .

Depois de longos minutos com a cabeça longe, olhou fixamente para aqueles belos olhos que a acompanhavam, e respondeu:

– É que eu me mexo muito durante a noite, sabe, prefiro dormir sozinha.

Ele engoliu seco e afastou as cobertas. Levantou, recolheu suas roupas que estavam no chão, saiu e fechou a porta, mas sem bater.
E nunca mais voltou.

Adriana Cecchi

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18nov

A — Oi.

B — Oi.

A — O que você tá fazendo aqui?

B — Não sei…

A — Você tem que saber. Deveria saber.

B — …

A — O que você quer?

B — Você.

A — Agora? E você acha que é assim?

B — Não, eu não acho. Eu nem sei o que eu acho, eu sei lá.

A — Você me confunde demais, sério.

B — E eu me confundo também.

A — Você não sabe o que quer.

B — Eu, eu…

A — Aliás, você sabe sim, você sabe o que não quer. E só.

B — Talvez.

A — Não é o que você queria.

B — Não sei se concordo.

A — Se fosse, você não estaria aqui agora.

B — Eu sei disso.

A — Você não estaria aqui nem gostaria de estar.

B — Eu não sei o que dizer.

A — Nem eu. Muito menos eu.

B — Ando pensando demais… Eu ando sentindo coisas demais.

A — Aonde você quer chegar?

B — Não deveria ser tão difícil assim.

A — Pra mim sempre foi difícil, mas não, acho que não deveria ser assim mesmo.

B — Você quer que eu suma?

A — Não. É claro que não!

B — Que bom porque eu também não quero sumir.

A — Não some, eu não sumo, não tem porquê sumir.

B — É… Eu acho que vou embora agora. Preciso descansar, espairecer…

A — Eu também, bastante.

B — Se cuida, tá?

A — Pode deixar e, ei… Se cuida também.

B — A gente se fala.

A — Tá bom!

Beijos

A — Tchau.

B — Tchau…

Adriana Cecchi

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