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Réquiem para um Sonho, de Hubert Selby Jr.
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Categoria: Desgraçamento Mental ||| por Adriana Cecchi

Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson
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Categoria: Livros ||| por Adriana Cecchi

Sombras do Passado (2022) | Andrew Semans
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Categoria: Filmes ||| por Adriana Cecchi

A Pediatra, de Andrea del Fuego
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Categoria: Livros ||| por Adriana Cecchi

Noites Brutais (2022) | Zach Cregger
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Categoria: Filmes ||| por Adriana Cecchi

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08out

Despertou no meio da noite, como de costume, com a boca seca.
Eram 03h17.
Tateou o criado-mudo na cabeceira à direita da cama, passou a mão pelo livro de centenas de páginas amareladas e capa de couro vinho que não conseguia terminar e encontrou o que buscava: água. Todos os dias deixava religiosamente um copo largo e comprido de água ao seu lado, como se precisasse disso para dormir com tranquilidade.
Sentou-se na cama, não enxergava um palmo a sua frente, mas não fazia questão de luz, aliás, só dormia se a escuridão fosse total. Deu três curtos goles, ainda estava gelada e foi o suficiente para matar sua sede.
Antes de deitar soltou os cabelos e fez um alto rabo de cavalo, gostava de dormir assim. Ajeitou e virou o lado do travesseiro, tem mania de fazer isso durante as noites, prefere que o lado que vai encostar a cabeça sempre esteja mais frio.
E deitou.
O relógio marcava 03h30, o que a fez lembrar-se das tantas histórias de terror que diziam que 3h33 da manhã é a hora em que os espíritos malignos se manifestam. “Bobagem” – pensou.
Alinhou o lençol com a colcha e a fina manta e cobriu-se até os ombros. Virou-se de frente para a parede, lado oposto ao que estava quando acordou.
Sabia que o sono não viria fácil. Nunca veio. Talvez nunca venha.
Mesmo acordada, continuava de olhos fechados. Estava cansada e tentava imaginar cenas para distrair a mente daquele momento insone.
Não demorou muito e percebeu que havia uma luz piscando em seu quarto. Abriu os olhos e pode ver uma luz bem leve aparecendo e desaparecendo na parede, refletindo no teto e por todo o ambiente.
“Mas de onde vem essa luz?” – perguntou-se.
Reparou na grande janela de madeira do outro lado do quarto e, entre as frestas, notou que a luz estava mais forte. Ela vinha de fora, só não sabia especificamente de onde nem como.
Mas precisava saber.
Moveu o trinco e correu bem devagar uma das partes da janela para não fazer barulho.
Na hora em que colocou a cabeça para fora, sentiu um golpe de vento gelado em sua direção, daqueles tão fortes que até assoviam.
Nenhuma luz piscava mais.
Ficou sem ar por alguns instantes e sentiu um arrepio na espinha. Correu a janela – dessa vez sem se preocupar com o barulho – e deitou-se rapidamente.
Antes que pudesse fechar os olhos, uma forte luz, agora, estava dentro de seu quarto.
Era azul. Azul bem claro. Claro e aterrorizantemente forte.
Apertou os olhos com força e balançou a cabeça, “Não pode ser real” – repetiu baixinho.
Não era apenas uma luz, parecia uma espécie de mancha azul, eram três delas.
Uma começou a se aproximar de sua cama. E um pedaço, como se fosse um braço, foi ao encontro de seu corpo.
Ela não sabia o que fazer. Mal acreditava que fosse verdade.
Seus olhos pretos agora estavam arregalados e opacos de medo.
Foi quando a mancha de luz azul encostou no meio de seu colo, que ela gritou desesperadamente, mas sua voz não saiu. Nada, estava muda.
O que parecia um braço entrou em seu peito numa velocidade inigualável. A mancha parecia procurar por algo dentro do corpo dela e depois de uma bruta estocada em seu coração, a garota se contorceu preferindo a morte comparada aquilo.
Sentiu seu órgão sendo retorcido, seus os olhos estavam virados e já não havia mais sinal de que fosse tentar gritar novamente.
E então a mancha encontrou o que queria e num golpe puxou seu braço para fora. Ela pensou que todas as suas tripas tinham ido junto, mas se enganou.
Com  os olhos mais acostumados com a claridade, viu com perfeição que a mancha tinha mesmo uma forma, um braço e uma mão com quatro longos dedos. Dedos estes seguravam uma pequena chave de ferro envelhecido cheia de arabescos, que por algum motivo estava em seu coração e fora arrancada de lá.
O que a pequena chave poderia abrir, talvez seja para sempre um grande mistério. Assim como não há como saber porque uma das manchas segurava uma ampulheta de madeira escura e areia brilhante feito ouro.
As manchas se uniram e o clarão dentro do quarto ficou ainda mais perturbador, até que se apagou por completo. Em silêncio.

07h00, o despertador tocou três vezes.

Ana levantou-se num pulo, suada e assustada.
Em meio àquela sensação horrível, não conseguia lembrar direito do pesadelo que teve, mas ia ligar para o trabalho e dizer que precisaria faltar hoje, pois não se sentia muito bem. Estava com uma estranha e muito forte dor no peito.

Adriana Cecchi

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05out

Primeira coluna de autores convidados, texto por Stephanie Roque

O rádio do carro demorou para sintonizar no programa que alerta os motoristas sobre o trânsito, e por isso, fiquei preso num congestionamento de volta pra casa. Fiquei tempo suficiente para contar as moedas que estavam guardadas no carro, separar as contas e ler um capítulo do livro que um rapaz do trabalho me emprestou.
Quando cheguei em casa, deparei-me com Rita sentada nas escadas, com fones de ouvido, lendo um livro. Ela já estava de pijamas, mas continuava linda. Seus cabelos estavam trançados e seus olhos castanhos-claros se ergueram ao me ver. Meus olhos, como resposta, quase suplicaram por um toque dela. Cheguei bem perto, e ao tirar-lhe os fones, minha barba roçou em sua pele quando meus lábios a tocaram.
“Olá”, eu disse.
Ela me abraçou com força, mas continuou sentada.
No momento em que entrei, Guillermo dormia dentro do berço. Com cuidado para não acordá-lo, tirei a gravata e os sapatos, e entrei no banheiro. Tomei um longo banho esperando que a água quente dissolvesse a tensão dos meus ombros. Pensei por alguns segundos na bela mulher que me dera seu número de telefone hoje, mas voltei a pensar nas papeladas da empresa. Em algum momento, Rita entrou no banheiro sem que eu visse e desenhou no espelho embaçado um sorriso.
Quando saí, vi que Guillermo já estava em seu quarto e que Rita me chamava do lado de fora. Perguntou-me como fora o dia de trabalho e me contara tudo o que fizera durante o seu. Chamou-me para entrar e disse que guardara o jantar para mim. E eu pude ver o quanto ela é a mulher mais linda do mundo, minha esposa e mãe do meu filho.
Conversamos durante o jantar e depois, enquanto eu lavava a louça, ela secava. Como numa imagem de cinema, pude notar que além do meu corpo, éramos felizes. Contudo, olhando para dentro de mim, eu não poderia – e nunca iria – amar somente Rita. E ela sabia disso.
No banheiro, enquanto ela escovava os dentes, eu aparava a barba. Enquanto eu escovava os dentes, ela tirava do frasquinho seus três anti-depressivos.
Ao nos deitarmos, ela me beijou por mais tempo que o habitual, disse o quanto me amava e entrelaçou suas mãos uma na outra, encolhendo-se debaixo do lençol. Naquele momento, vi o quanto Rita estava solitária. Beijei sua testa e me virei de costas, pensando em outras mulheres, e me culpando por não muito prestar.
Mas eu a amo.

Stephanie Roque

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02out

Ainda não me acostumei com essa intimidade transformada em diplomacia. Essa polidez. Essa educação. É como se eu nunca tivesse sentido um suspiro longo e profundo seu ao pé do meu ouvido.
Oi, como está?
Logo nós, que completávamos a fala um do outro, agora, não passamos da mera trivialidade.
E em casa, tudo bem?
Me sinto desconfortável. Chega a ser sufocante te conhecer tão bem.
Trabalhando muito?
A página foi virada para ambos, não há outra chance, não há outro meio.
Ouvi que vem uma frente fria na sexta.
A falta de espontaneidade pesa cruelmente em cada frase.
E aí, tem falado com Fulano?
Já bastamos um para o outro por horas, talvez até por dias.
“Risos” Ele sempre some mesmo.
Seu cheiro, que por vezes impregnou em meu suor, agora é só uma lembrança distante.
Você está diferente.
O verbo dói, mas o sujeito não sofre. Não mais.
Acho que você emagreceu, hein.
Você que já soube a medida exata de cada pedaço, cada parte, cada leve curva do meu corpo.
Você ainda tem meu número?
Perdemos o jeito com o nosso abraço. Não sei qual intensidade usar. Perdemos nossa alquimia.
Então tá, a gente vai se falando por aí.
O desconforto por já termos sido íntimos demais. Agora não sabemos como terminar uma conversa. Duelamos nosso adeus.
Tchau, se cuida.
E então, caminhamos em sentidos contrários.
Mais fácil assim.
Sem passos para nos prender.
Sem sentimentos para nos manter.
Sem mãos para nos tocar.
Sem olhares para nos dilacerar.
Seguimos.
Com dois nós na garganta.
Como dois estranhos.
Enfim.

Adriana Cecchi


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