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04ago

Romance policial com viés existencial: eu tinha certeza que ia gostar.

Galveston

Eu disse que não compraria mais livros, mas não resisti ao “livro do criador de True Detective, aquela série maravilhosa, impecável, que te faz pensar sobre a vida até quando acha que não está mais pensando…” É, comprei Galveston e comecei a ler no mesmo dia.

Olhando a bagagem de Nic Pizzolatto, eu sabia o que esperar de Galveston ao me deparar com a premissa: um matador de aluguel com câncer terminal no pulmão. Sacou?

“E agora eu estava morrendo e tudo o que já tinha acontecido comigo
começava a me parecer vagamente importante.” (p. 40)

No mesmo dia em que é diagnosticado com câncer no pulmão, o matador de aluguel Roy Cady pressente que o chefe, um agiota e dono de bar que é o mandachuva em Nova Orleans, quer vê-lo morto. Conhecido entre os membros da gangue pelo nada afetuoso apelido de Big Country, por causa do cabelo comprido e das botas de caubói, Roy desconfia de que o serviço de rotina para o qual foi enviado possa ser uma emboscada. E de fato é. Mas consegue inverter os papéis e, após um banho de sangue, escapa ileso.

Além de Roy, só há mais uma pessoa viva no local, uma mulher, e num ato impensado ele aponta uma arma para a cabeça dela e a leva consigo na fuga em direção à cidade de Galveston – uma decisão imprudente e sem volta. A mulher, uma prostituta de 18 anos chamada Rocky, é jovem demais, durona demais, sexy demais – e certamente trará para Roy problemas demais. (INTRÍNSECA)

Epígrafe

Lombada

Publicado originalmente em 2010 e trazido pela Intrínseca mês passado (junho/2015), Galveston traz alguns aspectos da série da HBO, destaques para a história envolvente e melancólica e para a escrita crua e dura.

Personagem bruto, porém de carne e osso; escrita dura, história orgânica,
livro intenso, introspectivo e viciante.

Com pouco mais de 230 páginas, o livro é dividido em 5 partes, alternando eventos que ocorreram no passado (ano de 1987) com o presente de Roy (20 anos depois, ano de 2008).

Narrado em primeira pessoa, temos uma relação mais profunda com Roy Cady, que apresenta dualidades ao leitor: sua história no aspecto de “condenação” em paralelo à “redenção”; e sua humanidade ora dolorida, ora empática. O autor não tem uma narrativa completamente niilista por conta disso, o texto tem ar de poesia cruel – se é que posso assim dizer – é ágil, direto e com diálogos marcantes.

Diálogo

Difícil, talvez, seja classificar o livro em um único gênero. Galveston tem uma inegável atmosfera noir, elementos de literatura criminal e desenvolve a trama para uma reflexão filosófica de forma sútil. Pra mim, um prato cheio.

Sem passado. Sem futuro. Sem nada a perder.

Romance de estreia de Nic Pizzolatto, Galveston foi finalista do Edgar Award e do Barnes & Noble Discover Prize. Ganhou o Spur Book Award e recebeu o Prix du Premier Roman Étranger da Academia Francesa. Procurando mais informações, descobri que o livro vai ganhar adaptação cinematográfica com roteiro do próprio Pizzolatto, direção de Janus Metz, que dirigiu um episódio de True Detective. Que assim seja!

Trecho

Depois de toda a intensidade do personagem Roy Cady e sua história, a última frase do livro me deixou olhando pro nada por uns 10 minutos. Fiquem curiosos ou leiam.

Título: Galveston
Título original: Galveston
Autor: Nic Pizzolatto
Editora: Intrínseca
Tradução: Alexandre Raposo
Número de páginas: 240
Gênero: Romance Policial

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Trechos e frases de Galveston

Carmem tinha um cabelo castanho-claro, comprido e preso para trás, e a pele do seu belo rosto estava áspera; o pó de arroz se acumulava nas pequenas dobras e rugas invisíveis a menos que você estivesse perto dela. Carmem me fazia lembrar de um copo vazio de drinque que já tinha sido bebido, com gelo e uma casca de limão esmagada no fundo. (p. 17)

Não respondi, mas fiquei atento ao fato de como era fácil e rápido invocar uma fúria que me permitiria deixar aqueles garotos aleijados. (p. 44)

Você não sobrevive a certas experiências, e, depois delas, não existe mais de forma plena, apesar de não ter morrido. (…) (p. 69)

Descobri que todas as pessoas fracas compartilham uma obsessão básica: elas se fixam na ideia de satisfação. Em qualquer lugar a que você vá, homens e mulheres são como corvos atraídos por objetos brilhantes. Para alguns, esses objetos brilhantes são outras pessoas – e seria melhor ser viciado em drogas. (p.88)

Quando voltei para o meu quarto, estava tão silencioso lá dentro que o tique-taque do despertador parecia reverberar, e aquele pequeno som me dizia que era tarde, mais tarde, e mais tarde ainda.
O tempo passara. Eu estava velho. (p. 108)

– Você não deveria procurar um médico?
– Você precisa de um meteorologista para lhe dizer que está chovendo? (p.186)

Verso

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  1. Raquel Moritz disse:

    Da série: “livros que eu talvez fosse comprar, mas que agora com certeza vou comprar”, aHEUHEHEHUEAHUE. Fiquei curiosíssima pela tal última frase. E como já falamos: Nic escreve pra caraio, né, então eu boto fé que vai ser algo massa.

    Beijão! <3

    1. Fui nessa também, pensei: pra que adiar, se já sei que vou gostar?
      Super indico, sou suspeita pra falar, o livro tem vários elementos que eu amo.
      Escreve bem demais, tá loco. Depois me conta o que achou <3ão

      Beijão :*

    2. Paulo disse:

      Eu comprei pois adoro a série True detective.
      Enfim, o livro é excelente. superou minhas expectativas.
      Recomendo.

    3. Paulo disse:

      Recomendo

  2. JOHN HERYSHON disse:

    Bah, prometi que não comentaria mais nada.. seja no blog ou no canal do youtube devido ao boicote a minha pessoa….kkkk., mas esse livro é mto legal…com certeza uma boa aquisição…

    Vida q segue…

    ‘Appy Days ‘mujer da caneca do Lynyrd’….

    1. Olá, John. Os comentários não estão habilitados para resposta no youtube, nos últimos três que vi só consegui “curtir” o comentário, o “responder” não aparece mais. Deve ser algo nas configurações da sua conta.
      Ótimo livro, recomendo!
      Abraços

      1. JOHN HERYSHON disse:

        Ahhh…’m.d.c.d.L’…bom ter um pouco de drama aqui e ali…rsrsrs, valeu pela consideração em responder…curto uma boa resenha e as tuas se destacam pela sensação bacana q causam…fica bem ok…

        ”Felizes são os esquecidos, pois eles tiram o melhor proveito dos seus equívocos.”

  3. Nunca assisti True Detective ç.ç To errada? Talvez, mas é a vida né.
    O livro parece ser interessante, e ver as coisas pelo ponto de vista de um paciente assim deve ser no mínimo interessante. Sou do time que ficou curioso com a última frase hahaha

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    1. Por favor, assista! Que série foda, meu deus.
      HAHAHAHAHA, era a minha intenção :x

      1. Paulo disse:

        Sabe, esse livro me lembrou outro parecido e também excelente. se chama DRIVE. tem um filme com Ryan gosling.

Os comentários estão fechados.


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